1 de jan. de 2011

Entrevista >> Crispiniano Neto

Diário de Natal - Muito

Edição de sábado, 1 de janeiro de 2011 
Entrevista: Crispiniano Neto




Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
"O Estado marcha para a incapacidade de investimento"


O próximo gestor da Fundação José Augusto herdará uma máquina administrativa quebrada. E pelo tom do atual comandante da nau desgovernada, haverá demora para quitar dívidas e iniciar uma política cultural consistente. Segundo Crispiniano Neto, a "boa vontade" do governador Iberê Ferreira de Souza esbarra na cofre vazio da Secretaria de Planejamento. Telefones da FJA cortados. Cachês atrasados. E a ausência de um auto natalino após onze anos ininterruptos de apresentações. Esses são apenas alguns indicativos da falência. "A situação do Governo é de quase insolvência e merece estudo para diagnosticar como chegou a essa situação", afirmou Crispiniano na entrevista a seguir.

Fim de ano e nada do pagamento do Festival Agosto de Teatro ou auto natalino. O que houve?
Pagamento é problema do Governo. Encaminhamos tudo o que podíamos. Houve comprometimento do governador. Mas o problema foi de caixa. Nosso secretários de finanças deu até plantão todo dia na Seplan. É uma dificuldade que, infelizmente, não temos poder de resolução.


A prefeitura conseguiu 80% de patrocínio privado este ano. Não seria solução?

Não tivemos condições de pensar nisso diante dessa situação. Em julho e agosto decidimos cumprir o que estava anunciado e deixar tudo empenhado, até do que já se devia. Ou seja: depois do Festival Agosto de Teatro, evitamos qualquer ação para não acumular dívida e novos problemas com os artistas.

Como se chegou a essa situação? 
É reclamação geral dos secretários. Mesmo a Saúde, com verba tarimbada pelo Governo Federal e Estado, passa dificuldade. Então, não teria tranquilidade em afirmar isso diante da situação traumática do Estado. A governadora Wilma abriu muitas obras ao mesmo tempo e ficou sobrecarregada de compromissos. Aí vem a folha de pagamento de outros poderes, a crise mundial. E não houve a reposição financeira esperada. Não é falta de vontade.

Aí veio o novo governo... 
Eu quis sair. Iberê me fez o apelo para ficar sob garantia de que seria diferente. Mas encontrou o desequilíbrio de contas e não correspondeu com o que prometeu. Mas não o culpo. Ele também é vítima do processo de comprometimento das contas do Estado, que aliás, merece estudo aprofundado para diagnosticar como se chegou a essa situação de quase insolvência. O Estado marcha para a incapacidade de investimento.

Nem para pagar conta de telefone?
Solicitamos os recursos há três meses. A prioridade eram os artistas e as contas básicas. Quitamos a Cosern. Com o telefone não tivemos essa sorte. O dinheiro chega a conta gotas. Estamos bastante chateados em terminar a administração sem resolver nossas pendências. O governador está sempre viajando. Quando conseguimos audiência, há boa vontade, mas esbarra na realidade da Seplan.

Você está arrependido do cargo que ocupou por não conseguir promover o que gostaria? 
Tudo tem seu lado bom e ruim. A experiência valeu, mas foi muito desagradável, traumático. Só assumo cargo público agora com a certeza de orçamento e liberdade para nomear e exonerar. Já especularam cargo pra mim. Mas nem me ofereceram nem dei abertura pra tal. Esse Estado está virando máquina de fazer doido. É burocracia, falta de planejamento, descompromisso... Só vale à pena se for para fazer política cultural. Não encontramos condições básicas.

Qual a grande frustração desses quatro anos de gestão?
O governo esteve envolvido com muitas coisas. Não houve foco na Cultura. Mas minha grande frustração foram os convênios cancelados junto ao Ministério da Cultura. A promessa do Estado era de que não faltaria dinheiro pra contrapartida. Faltou. Nem a execução das primeiras parcelas houve. Ou eu cancelaria o convênio ou responderia pelo resto da vida. Uma pena. Eram projetos muito bons. Agora, houve coisa boa: o Registro do Patrimônio Vivo, o próprio Festival Agosto de Teatro, os Pontos de Cultura (com dificuldade de conclusão, mas atuante), os 105 microprojetos culturais, os próprios editais. Houve muita dificuldade, mas fizemos. Tanto que um grupo de teatro mossoroense articulado com vários outros do Seridó e até de Natal encaminhou ofício à nova governadora pedindo manutenção da nossa política. Quer dizer, estamos no caminho certo, mas carro sem combustível não anda. 

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