21 de jun. de 2010

Ao encontro de Deus foi Militana.

Tive um fim de semana, mesmo que rodeado de bons amigos, um tanto quanto triste. Dona Militana encantou-se e foi definitivamente ao sagrado terreiro dos mestres celestial.
A figura rançosa, mas de coração repleto de sonhos guardasdos que tive o prazer de ganhar alguns poucos, mas calorosos abraços.
Chormosa ao pitar seu cachimbo companheiro. Tesouro potiguar. Partiu para um lugar seguro e acolhedor. Foi ser inpiração para o nosso pensar.
A Deus Militana foi encontrar.
Pede a benção a ele por mim.

O Poema a seguir sempre achei que tem um pouco de Dona Militana em cada verso e ele que trago aqui. Para dar ludicidade ao meu pesar e ao amor que sempre vou carregar para com a grande Dama da Cultura Popular do Rio Grande do Norte.

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

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